A importância do patrulhamento em bicicleta

As bicicletas foram das primeiras formas de transporte de pessoas e bens… há dois séculos atrás. E como tal também as primeiras formas de transporte das brigadas de polícia.

Hoje os departamentos de polícia de segurança pública um pouco por todo o mundo utilizam a bicicleta como forma de mobilidade ou transporte ao efectuarem patrulhamentos e também como modo de deslocação até ao local de determinada ocorrência e ainda em determinadas circunstâncias particulares quando outros veículos não estão acessíveis.

Nos patrulhamentos urbanos ou em outros trabalhos a bicicleta tem uma faculdade que pode ser utilizada que é poder servir de modo de transporte de materiais necessários ao cumprimento do trabalho dos agentes policiais, como armas ou material de socorro, material médico, de apoio ou logístico.

A bicicleta pode ser utilizada em inúmeras vertentes do policiamento: patrulha urbana, operações stop, deslocações de brigadas, etc.

A bicicleta é um fantástico aliado ao trabalho da polícia desde que garantidas as questões de segurança, legalidade e eficiência. Os agentes devem ter noções sobre segurança rodoviária vocacionada para a bicicleta, tácticas policiais e de patrulhamento, manutenção, treino de emergência e legislação.

Neste âmbito a FPCUB pode preparar material e disponibilizar informação para a organização de workshops que incluam desde aconselhamento sobre questões administrativas até orientação da melhor forma de tirar partido da bicicleta em função das tácticas de patrulhamento utilizadas. Estas informações poderão depois ser utilizadas pelas equipas de treino das polícias no desenvolvimento de programas para os diversos agentes.

1. Benefícios do patrulhamento em bicicleta

Economia

A opção pela bicicleta tem em muitas e inúmeras situações custos menores comparativamente com outras formas de patrulhamento que necessitam que o apoio e logística seja feito com recurso a veículos motorizados quer para o transporte de agentes quer para o transporte de materiais.

Eficiência

Em áreas confinadas, não necessariamente pequenas, e para curtas ou médias distâncias a percorrer pelas equipas de patrulhamento, a bicicleta é uma forma eficiente de adaptação ao trânsito urbano quer rodoviário quer pedestre, dado que as velocidades de deslocação podem ser adequadas conforme as exigências (tempo de resposta disponível, volume de tráfego, engarrafamentos, congestionamentos, etc.). Da mesma forma é eficiente na distribuição de elementos de patrulha que saem de um mesmo ponto (esquadra ou quartel) com a finalidade de se posicionarem em diferentes locais ou áreas estratégicas. A bicicleta preenche o vazio entre os convencionais patrulhamentos automóvel e a pé.

Rapidez

A bicicleta permite maior rapidez de deslocação em inúmeras situações: em grandes aglomerações de pessoas ou trânsito rodoviário congestionado, parado ou bloqueado quer pelo próprio número de veículos em circulação que não pode ser facilmente escoado face ao espaço da rede viária disponível quer por outra ocorrência que impeça que esse escoamento se faça de forma normal.

A bicicleta é especialmente vantajosa ao permitir uma maior rapidez na resposta, quando esta se mostrar necessária, e também mais rondas de patrulhamento no mesmo intervalo de tempo com maior frequência de passagem nos mesmos locais.

Proximidade

A bicicleta permite uma maior proximidade física e até emocional entre agentes e cidadãos. Estando visíveis mais vezes estão efectivamente mais perto, mas também mais disponíveis para qualquer necessidade, criando maior sensação de segurança entre os cidadãos. Esta sensação real de segurança trará por si só outras vantagens: cidadãos mais descansados para prosseguírem as suas tarefas quotidianas e impacto na exclusão das intenções de eventuais prevaricadores.

Outras vantagens

– Aumento da capacidade de alerta dos agentes para detectarem situações anormais por estarem mais próximos de pessoas e bens.

– Adequação em locais de eventos públicos ou privados com grande concentração de pessoas e locais de grande circulação pedonal.

– Efeito surpresa na possibilidade de deslocação e aproximação silenciosa (permitindo igualmente o inverso se necessário).

– Opção por uma forma de mobilidade e transporte sustentável do ponto de vista ambiental, promovendo-se e divulgando-se ao mesmo tempo e pela prática esses princípios (diminuição das emissões poluentes e do ruído, libertação do espaço público, etc.)

– Opção por uma forma saudável de deslocação dos agentes. A performance e endurance nas deslocações aumentará à medida que os agentes criarem habituação e com a frequência de utilização da bicicleta. Isso trará vantagens em termos da sua resposta e prestação física e reacção às ocorrências, mas também em termos de saúde e bem estar pessoal, quer físico quer psíquico (Mens sana in corpore sano), aumentando consequentemente a sua motivação para as tarefas que lhes forem destinadas e os bons resultados em termos de satisfação e auto-estima.

2. Contexto para o patrulhamento em bicicleta

Necessidade de agilidade no trabalho da polícia (zonas urbanas)

Eficácia em outros contextos: campus universitários, parques, centros empresariais, eventos desportivos, zonas turísticas, policiamento comunitário, etc.

Onde haja possibilidade múltipla de circular, quer em estrada, quer em passeios, caminhos e outras áreas de acesso difícil a automóveis

Distâncias médias de patrulhamento em bicicleta – 35 a 40 km

3. Equipamento e uniforme

Bicicleta de Todo o Terreno (BTT) – os veículos devem ser adequados aos mais variados contextos e terrenos e estar equipados com luzes (dianteira e traseira), sacos de transporte de material, utensílio para transporte de água, campainha, suspensão (que aumenta o conforto e a perfomance) e kit básico de manutenção.

Em termos de roupas de Uniforme deverá ter-se em atenção a adequação dos uniformes à utilização no Inverno e no Verão com as respectivas adaptações em termos de tecidos e peças. Calções, camisolas e meias em tecidos que eliminem facilmente o suor (fibras que respirem e sequem facilmente e algodões) para o Verão e vestuário impermeável para o Inverno (não excessivamente quente). Esta escolha deverá ainda ser cuidada em função da necessidade de inclusão de insígnias ou patentes e demais elementos decorativos ou outros, necessários à identificação dos agentes e inerentes à própria força de segurança e também elementos reflectores em caso de utilização nocturna ou condições de visibilidade reduzida (chuva ou nevoeiro, por exemplo). O calçado deverá ser adaptado à bicicleta tal como as luvas (estas também devem ser adaptadas à época do ano e às funções a desempenhar.

O capacete de protecção deverá estar homologado e ser escolhido com as mesmas preocupações em termos de insígnias e decoração, mas também em termos do tipo de trabalho que vai ser desenvolvido pelo agente, sendo que deve ser flexível e adaptável a várias situações do dia a dia.

4. Formação

A formação dos agentes pode ter vários níveis e fases de desenvolvimento e deve ter em consideração que a bicicleta passará a ser o veículo de mobilidade e transporte do agente (noção de Vehicular cycling) e como tal dever-lhe-ão ser facultadas as competências necessárias à sua utilização por forma a optimizar esta opção.

Entre essas competências incluem-se:

Aptidão de condução

O agente deve estar apto a circular em todo o tipo de locais e terrenos, quer urbanos, e com trânsito rodoviário e/ou pedestre (vias urbanas ou municipais alcatroadas, asfaltadas ou calcetadas e vias cicláveis), quer fora de estrada (terrenos ou caminhos irregulares em termos de texturas, materiais, nivelamentos e inclinações/declives) e em contacto com a natureza (caminhos de pé posto, caminhos florestais, zonas com estatuto de protecção, etc.). Deve igualmente conhecer as componentes principais da bicicleta e o seu funcionamento de forma a tirar o máximo partido em termos de desmultiplicação de mudanças e velocidades, sistema de travagem e suspensão, entre outras questões de ordem prática.

Transporte seguro de objectos, materiais ou obstáculos (armas, material dissuasor, escadas, etc.)

Formas de comportamento ao efectuar patrulhamentos e tácticas de resposta rápida, eficaz e segura em perseguições e situações de emergência, entre outros trabalhos.

Noções de segurança rodoviária e legislação em geral relativa a velocípedes sem motor.

Noções de manutenção dos veículos.

5. Exemplos internacionais

Desde 1991, a IPMBA (International Police Mountain Bike Association) tem promovido e defendido a utilização da bicicleta em patrulhamentos de polícia e disponibilizado informação sobre o assunto. Mais de 3.000 agentes activos fazem patrulhamento em bicicleta e de defesa pessoal representando mais de 2.000 agências nos USA e sete outros países. Esta associação tem formadores treinados por ela para prestarem treino tanto nos Estados Unidos como na Europa, nomeadamente na Inglaterra e na Holanda.