22 DE SETEMBRO DE 2002 – DIA EUROPEU SEM CARROS

"POR UMA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL"

Durante os seus 15 anos de existência (e 19 sócios mortos, atropelados por automóveis enquanto utilizavam a sua bicicleta) a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) tem promovido o uso da bicicleta tanto para fins recreativos e de lazer como para uma utilização urbana e utilitária. Tem também reivindicado a criação de infra-estruturas seguras para a utilização da bicicleta, nomeadamente ciclovias para além das necessárias alterações ao Código da Estrada e restrições ao uso do automóvel sempre que se ofereçam alternativas.

No Dia Europeu sem Carros a FPCUB apresentou um balanço da iniciativa e do estado da mobilidade em Portugal.

A adesão ao Dia Sem Carros, e pela 1ª vez à Semana da Mobilidade, cresceu relativamente aos anos anteriores, com 64 autarquias associadas ao evento. Considerou-se muito positivo que diversas autarquias tenham decidido levar a cabo medidas permanentes e que incluem: – Encerramento de zonas das cidades ao trânsito automóvel;

– Construção de pistas cicláveis e disponibilização de bicicletas para uso público;

– Reforço dos transportes públicos;

– Melhoria das infra-estruturas para a mobilidade de deficientes motores. No entanto, continua a verificar-se um enorme déficit em relação às necessidades de infra-estruturas e medidas que efectivamente permitam encontrar soluções alternativas e complementares ao automóvel como meio de transporte urbano. O crescimento das emissões de gases poluentes e ruído, o tempo gasto em congestionamentos e a ocupação do espaço público confirmam que é urgente passar de boas intenções e medidas parcelares a decisões corajosas.

A FPCUB está preocupada com o reforço da rede de estradas em detrimento do investimento na rede ferroviária convencional e em redes de transportes colectivos e redes alternativas, nomeadamente infra-estruturas para bicicletas. Considera ainda tímida a aplicação de medidas experimentais como o Dia Sem Carros. A FPCUB considera que a bicicleta deve ser entendida como parte da solução para os problemas de tráfego e de ambiente nas cidades, quando integrada numa política de transportes que privilegie o transporte público colectivo, a melhoria da qualidade do ambiente e uma mobilidade sustentável, com baixos recursos financeiros e benefícios económicos

Tendo uma vasta experiência de colaboração em iniciativas conjuntas, este ano, na semana da mobilidade, a FPCUB cooperou com inúmeras autarquias através da disponibilização de bicicletas, na organização de iniciativas ou apresentando soluções para a melhoria para as condições de mobilidade, de que se destacam Aljezur, Beja, Grândola, Lisboa, Matosinhos, Moura, Oeiras, Portimão, Queluz, Santarém, Setúbal, e Viana do Castelo.

Quanto a Lisboa considerou-se extremamente louvável a experiência da restrição ao automóvel no Chiado, aos fins de semana, como medida permanente. No entanto, foi deixada uma crítica e um apelo à Câmara Municipal de Lisboa porque, à semelhança do que aconteceu com outras autarquias, tem sido feito um esforço de sensibilização das populações para a mobilidade, mas com medidas que nunca criaram limites à circulação automóvel. Apesar do dia 22 de Setembro de 2002 ter sido um domingo, o que facilitaria a restrição da circulação automóvel, foi o primeiro ano, desde o arranque da iniciativa, em que a CML ignorou qualquer restrição ao tráfego automóvel. Ao mesmo tempo, a maioria das autarquias promoveu o alargamento da área de restrição em relação aos anos anteriores e incluiu o sábado como dia sem carros. Neste campo, Lisboa distinguiu-se, pela negativa, das restantes cidades da Área Metropolitana de Lisboa. Por exemplo, Oeiras alargou a zona de restrição, aplicou-a também no sábado e inaugurou, como medida permanente, uma ciclovia na zona da Nova Oeiras.

A FPCUB espera que o ano 2003 possa contar com uma Semana da Mobilidade assumida, e sem carros, em que a restrição ao uso do automóvel seja efectiva. Espera também que seja continuada a construção de ciclovias (e de zonas pedonais), articuladas com o sistema de transportes colectivos e que possa ser ouvida dada a experiência que possui nesta área, do ponto de vista do utilizador de bicicleta, para que os investimentos a efectuar sejam tecnicamente acompanhados.

É altura de autarcas e governo mostrarem, através da aplicação de políticas concretas, que estão verdadeiramente preocupados com a qualidade de vida, o ambiente e a mobilidade nas nossas cidades.

A FPCUB MANTÉM-SE DISPONÍVEL PARA COLABORAR COM TODAS AS ENTIDADES QUE O SOLICITAREM COM VISTA À ALTERAÇÃO DE COMPORTAMENTOS DE PARTILHA DA CIDADE E RESPEITO PELO AMBIENTE.

POR UMA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL POR UM PORTUGAL CICLÁVEL