Sair à rua de bicicleta é quase suicida

Notícia Portugal Diário – 01AGO07 

Transporte não é protegido pelas autoridades, antes tratado como «veículo marginal»

Em Portugal «é quase um acto suicida vir para a rua de bicicleta», devido à falta de protecção deste meio de transporte, considerado pelas autoridades «um veículo marginal», segundo o presidente da Federação Portuguesa de Ciclistas e Utilizadores de Bicicleta.
O responsável da FPCUB, José Manuel Caetano, comentou desta forma à agência Lusa um inquérito divulgado hoje pela Comissão Europeia segundo o qual Portugal é dos países-membros onde menos se utiliza a bicicleta como principal meio de transporte, com apenas um por cento dos cidadãos a pedalar no dia-a-dia.

Este indicador não surpreende José Manuel Caetano: «Não são criadas condições, as pessoas não andam (de bicicleta), é preciso serem criadas condições, sobretudo de segurança».

Para o presidente da FPCUB num «país que promove o automóvel e todas as iniciativas para promover o uso da bicicleta são travadas pelos políticos, não admira que estejamos nessa posição».

De acordo com um Eurobarómetro sobre a atitude dos europeus relativamente à política de transportes, Portugal é o terceiro estado-membro da UE onde menos se utiliza a bicicleta, eleita como principal meio de transporte para as actividades diárias por 8,7 por cento dos europeus.

«É importante a UE já considerar a bicicleta como meio de transporte, quando em Portugal o termo utilizado é um veículo marginal», perante os outros veículos, afirmou, acrescentando: «Assim é uma ousadia as pessoas virem de bicicleta para a rua».

Alterações no Código da Estrada

«Fizemos insistência para que a bicicleta fosse mais protegida (no novo Código da Estrada) e só nos foi concedida prioridade nas rotundas e quando o condutor sai de uma garagem ou caminho particular», exemplificou, acrescentando que a federação vai continuar a insistir para proteger os ciclistas.

«É nossa intenção voltar a perguntar à secretária de Estado dos Transportes quando é que a bicicleta deixa de ser considerada um veículo marginal, porque é um meio completar», referiu, adiantando que a FPCUB tenciona pedir uma audiência a Ana Paula Vitorino antes da Semana Europeia da Mobilidade, que decorre de 16 a 22 de Setembro, dedicada ao tema «Ruas com Pessoas».

A federação vai pedir alterações ao Código da Estrada para proteger os utilizadores de bicicleta.

Coabitação entre automóveis e bicicletas

Por outro lado, afirmou, que se «for cumprido o limite de velocidade de 50 quilómetros por hora dentro das vilas e cidades, torna-se mais fácil a coabitação» entre automóveis e a bicicletas.

Dados e factos na Holanda

Segundo os dados da UE, a Holanda é o país onde a bicicleta é mais popular, com 40 por cento de «ciclistas», seguida da Dinamarca (23,4pc), enquanto no extremo oposto apenas luxemburgueses (0,6pc) e malteses (0,8pc) recorrem menos a velocípedes do que os portugueses.

Apesar deste cenário, José Manuel Caetano considera que há cada vez mais pessoas a andar de bicicleta e até uma nova geração de condutores nas classes média e alta que pratica desporto e já respeita mais quem anda